Episódio 1: Introdução e primeiros tempos da música no Brasil. Inicia-se com a Abertura Zemira de José Maurício Nunes Garcia, a vinheta sonora da série. Ricardo Kanji apresenta, em seguida, uma introdução ao projeto, que inclui uma conversa com Paulo Castagna sobre o trabalho com manuscritos musicais, no Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo.
Informações gerais sobre o início do domínio europeu do Brasil e sobre a
relação com os indígenas e africanos são ligadas à atividade musical
dos séculos XVI, XVII e princípios do XVIII, com vários exemplos
sonoros, incluindo Matais de incêndios, a mais antiga composição polifônica em português encontrada em um manuscrito musical brasileiro.
Episódio 2: A música setecentista no Brasil. Aborda a música de tradição europeia composta em Pernambuco, Bahia e São Paulo
no século XVIII. Embora a maior parte das obras musicais escritas no
Nordeste brasileiro dessa época tenha sido perdida, o programa tenta
apresentar um panorama da produção que ocorreu nessas regiões antes da
Independência. O repertório estende-se das obras portuguesas cantadas no
Brasil até as composições que apresentam mistura de elementos musicais
de vários estilos, incluindo o melodismo da ópera italiana, mesmo na
música sacra. Escritas em uma fase escravocrata, na qual essas regiões
brasileiras eram marcadas pelo genocídio das comunidades indígenas e
apropriação de suas terras para a exploração agropecuária, as obras
apresentadas neste programa refletem a cultura dos europeus que se
beneficiavam do sistema sócio-econômico imposto às comunidades locais.
Mesmo assim, algumas idéias e sonoridades africanas já eram presentes
nos lundus que circulavam por várias camadas sociais e mesmo em algumas canções que a elite portuguesa praticava em suas residências.
Episódios 3: A música no período áureo de Minas Gerais. Aborda
a perseguição da música africana pelas autoridades eclesiásticas da
época, o cultivo da música sacra nas igrejas e as canções portuguesas no
ambiente doméstico, observando-se, em algumas dessas canções, o
interesse português pela visão de mundo africana. Entre obras de
compositores portugueses, como o Pueri Hebræorum para três vozes e baixo e talvez o Bajulans para quatro vozes e baixo, este episódio apresenta composições mineiras de Francisco Gomes da Rocha (c.1754-1808), Manuel Dias de Oliveira
(c.1735-1813) e Inácio Parreiras Neves (c.1730-c.1791). Também foi
dedicado espaço, neste episódio, à arquitetura sacra e ao órgão
histórico da Catedral de Mariana, construído na primeira metade do século XVIII e de Portugal enviado a Minas Gerais por ordem real em 1750.
Episódio 4: Ouro, diamantes e música em Minas. Dedicado aos compositores mineiros e afro-descententes José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita e João de Deus de Castro Lobo. O primeiro deles nasceu na Vila do Serro, por volta de 1746 e transferiu-se para o Arraial do Tijuco (atual Diamantina) cerca de trinta anos depois, onde viveu seu período mais produtivo, transferindo-se em 1798 para Vila Rica, e em 1801 para o Rio de Janeiro, onde exerceu o cargo de organista da Ordem Terceira do Carmo até sua morte, em 1805. Castro Lobo nasceu em Vila Rica em 1794 e faleceu em Mariana
em 1832, cidade na qual desempenhou os cargos de mestre da capela e
organista da catedral, trabalhando junto ao órgão que foi assunto do
terceiro episódio desta série. Entre as obras de Lobo de Mesquita, foi incluído o Ego enim accepi a Domino (Lição VIII das Matinas de Quinta-feira Santa), que mais provavelmente foi escrito por Jerônimo de Sousa Lobo em Vila Rica, em fins do século XVIII ou princípios do século XIX.
Episódio 5: José Maurício Nunes Garcia: um brasileiro nos ouvidos da Corte. Dedicado à música de José Maurício Nunes Garcia
(1767-1830), o mais representativo compositor afro-descendente de
música sacra dos séculos XVIII e XIX. O episódio inicia-se com sua
primeira composição conhecida, Tota pulchra es Maria (1783),
escrita aos 16 anos de idade, e inclui informações sobre sua ordenação
sacerdotal, seu desenvolvimento profissional e sua relação com a elite
monárquica e com o compositor Marcos Portugal,
que chegou ao Rio de Janeiro em 1811 para assumir a função de
compositor da corte. Além de obras sacras, o programa apresenta, na
íntegra, duas de suas peças orquestrais: as Aberturas em Ré e Zemira.
Episódio 6: A música da Independência. Aborda a atividade musical no Rio de Janeiro em torno do ano da Independência (1822), com muitas informações e imagens históricas. Destacam-se as obras de José Maurício Nunes Garcia (1767-1830), principalmente as profanas. O episódio inclui também a finalização do Requiem de Mozart por Sigismund Neukomm (1778-1858) no Rio de Janeiro e a apresentação, na íntegra, do primeiro movimento do primeiro Dueto concertante
para dois violinos de Gabriel Fernandes da Trindade (a mais antiga
composição camerística brasileira), pelos violinistas Cláudio Cruz e
Betina Stegman. O programa aborda, ainda, a história dos principais
hinos políticos compostos na ocasião, como o Hino Constitucional Brasiliense (hoje o Hino da Independência) - cuja letra de Evaristo da Veiga foi musicada por Pedro I - e o Hino ao Sete de Abril (hoje o Hino Nacional), com a letra original de Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva, que comemorava a abdicação de Pedro I e seu retorno a Portugal, em 1831.
Episódio 7: Saraus, danças e intimidades. Explora a música usada no ambiente doméstico brasileiro do século XIX. Canções (como modinhas e lundus)
envolviam a expressão dos sentimentos amorosos (presentes ou perdidos),
o humor e a sátira, sendo muito comuns em reuniões familiares e sociais
daquele período. As danças, por sua vez, eram destinadas às festas e
comemorações, sendo as principais, nessa época, a polca, a quadrilha, a
mazurca e a valsa, abordadas nessa ordem. Embora tenham circulado, no
Brasil do século XIX, tanto obras locais quanto internacionais, este
episódio apresenta composições brasileiras destinadas ao meio doméstico
da elite do período, abordando também as questões sociais envolvidas
nesse repertório.
Episódio 8 - Carlos Gomes, o emblema da ópera no Brasil. Dedicado ao compositor Antônio Carlos Gomes (1836-1896), primeiro autor brasileiro de óperas a ter adquirido notoriedade na Europa. O episódio discorre sobre sua formação em Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro, e sobre sua vida profissional no Brasil e na Itália, apresentando obras menos conhecidas de sua produção, entre elas, peças para piano como as polcas Caiumba e Nini, canções como o Hino à Mocidade Acadêmica, a modinha Quem sabe, a ária Conselhos, o prelúdio da ópera A noite do castelo e a Sonata em Ré maior para cordas, que recebeu do autor o subtítulo Burrico de pau.
Episódio 9 - Romantismo: um Brasil para poucos. Dedicado ao
movimento musical romântico brasileiro e suas contradições sociais.
Embora a sociedade brasileira da segunda metade do século XIX tenha
optado pela progressiva extinção do sistema escravocrata, a elite urbana
cultivou uma cultura de origem branca e européia, o mais isenta
possível dos costumes populares. Foram assim criados os primeiros clubes
de concertos, destinados à prática de óperas, sinfonias, concertos para
instrumento e orquestra, danças de salão, canções e música de câmara,
compostas principalmente por europeus, mas que incluiu alguns autores
brasileiros filiados à tradição européia. Nesse ambiente, a partir da
década de 1870, a elite brasileira iniciou a assimilação do romantismo
europeu, estimulando o surgimento de compositores inteiramente dedicados
a essa tendência, como Henrique Oswald (1852-1931), Leopoldo Miguez (1850-1902) e Alberto Nepomuceno (1864-1920), dos quais são apresentadas neste algumas obras pianísticas, camerísticas e sinfônicas.
Episódio 10 - Romantismo e patriotismo: afinal, somos brasileiros? Aborda a Belle Époque brasileira,
um período situado entre as últimas décadas do século XIX e primeiras
do século XX e caracterizado pela criação de uma cultura urbana baseada
no ideal europeu (principalmente francês) de civilização, que incluía a
discriminação social e cultural. Além da adoção do romantismo
franco-germânico no repertório dos teatros e escolas de música,
proliferaram-se, nas danças de salão dessa fase, a abordagem da música
popular a partir do olhar europeu, ou seja, como manifestação exótica de
uma população inculta, mas que poderia ser civilizada pela arte do Velho Mundo. Como exemplos de tais tendências, estão obras de Alberto Nepomuceno (1864-1920), Brasílio Itiberê da Cunha (1846-1913) e Alexandre Levy (1864-1892).